sábado, fevereiro 23, 2008

* Amores são dores!


Faz tanto tempo,
E não há mais tempo.
Não lembro, nem esqueço
Passou e não penso.

Penso!
Mas não penso,
É um passado enterrado,
Morto, desfigurado.

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Espero que 2008 seja melhor para o meu coração, do que foi 2007, 2006 (que coração?), 2005. Há tempos que não há verdade, e encanto, somente ferrugem no sorriso.
Para falar a verdade, fui feliz sim! Para ser mais verdadeiro, sou feliz, porque não admito outra coisa, mas gostaria muito de ter relacionamentos menos ordinários.
Quero muito ver a luz do Sol no meio da noite, esquecer o mundo lá fora, me perder em beijos e sorrisos, compartilhar palavras e pensamentos, andar de mãos dadas e fazer todas aquelas cenas de carinho em público, e deixar que o resto seja imperfeito.


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Quantas mágoas eternas!
Quantos amores terrestres!
Dores são dores,
E amor não se esquece!

sábado, fevereiro 16, 2008

* Pequenas Mentiras

A chuva, fina e fria, cai intermitente por mais de dois dias tristes. Quando a temperatura diminuía muito, as pequenas gotas, que precipitavam tal qual bailarinas, girando no ar, formavam flocos de neve. Tão frágeis que derretiam ao tocar o solo. Havia mais de três semanas que eles não viam o Sol, encoberto por nuvens pesadas vindas da Sibéria, alguém disse. Na primeira semana, houve uma nevasca terrível, e a neve se acumulou em camadas, nas calçadas, telhados, árvores, tudo tinha ficado branco. Quando a neve começou a derreter, havia lama em todos os lugares, além de placas de gelo no chão, que não se desmancharam porque a temperatura voltou a cair. E naquele domingo havia chuva, fina, fria, intensa. Eles queriam sair, ver a rua. Patrícia queria tomar um sorvete na Piazza di Roma, a sorveteria mais famosa da cidade. No último verão, quando não estavam fora da cidade, iam todos os domingo naquele estabelecimento que vendia felicidade em bolas de chocolate, e em outros sabores. Resolveram sair de casa, e saíram feitos astronautas, com o corpo coberto por várias camadas de roupas.
Caio havia aprendido a mentir com Patrícia. Ela lhe contara muitas histórias. E ele não podia acreditar em todas, parecia ser fantasia, mania de grandeza, loucura. Fingira acreditar. Aceitava ouvir tudo, pois não tinha mais ninguém para lhe fazer companhia naquele inverno. Não tinha com quem caminhar nas ruas geladas, sorvendo um sorvete de creme e flocos, de braços dados. Mas aprendia com as histórias dela. Anos depois ele agradeceu tê-la conhecido. Todas às vezes, quando foi necessário inventar uma história, ele se lembrava dela, sua professora de mentira. Uma vez, quando caminhavam por uma estrada de chão batido, indo para um castelo medieval dentro de uma floresta de pinheiros, ele resolveu contar uma história. Resolveu inventar uma história fantástica, para ludibriá-la. Mas ela, no seu jeito de moça recatada, e ao mesmo tempo espevitada, era muito mais esperta do que ele, e percebeu, que o rapaz magro, e sensual que lhe dava o braço, que às vezes dormia em seu quarto, que parecia ser o seu melhor amigo, estava lhe contando uma mentira. Eles discutiram, e ela pediu que nunca mais lhe mentisse. Ele com o orgulho de homem jovem ferido, prometeu a si mesmo, ainda com o rosto rosado, resultado da vergonha por ter sido desmascarado, ao ser pego na mentira, que ia enganá-la. Achou que poderia produzir uma mentira perfeita, a aquela que ela não desconfiaria.
No domingo, quando desciam a rua em direção ao rio, ainda não tinham terminado de tomar os seus sorvetes. Ela vertia algumas lágrimas, estava triste, e o tempo não ajudava. Ele começou a contar uma história, que teria se passado na ausência dela, quando estivera viajando para o campo. Ela riu ainda com o rosto molhado, das coisas que ele falou, mas pediu que ele explicasse novamente a história, pois não tinha entendido direito alguns fatos. Na segunda exposição, ela percebeu que ele mentia. Ela parou na calçada, no momento em que iam atravessar a rua. Ele foi, ela ficou. Nunca havia inventado uma história, nem contado uma mentira para ele. Mas ele, inseguro, sentia-se inferior a ela. Armou-se num mundo imaginário que não existia, único mundo onde conseguia forças para estar ao lado dela em igualdade. Ele aprendeu a mentir com ela. Ela nunca mentiu para ele. Depois daquele dia só se viram esporadicamente, se cumprimentavam com os olhos, quando se viam em algum lugar. Quando ele atravessou a rua, da última vez em que estiveram juntos, ela deu meia volta e retornou pela mesma rua, subindo a rua em direção à sorveteria. Precisava de mais uma bola de chocolate, talvez duas ou três. A chuva fina e fria havia se transformado em pequenos flocos de neve. A paisagem, com o casario antigo ao fundo, era linda. Ela tinha novamente lágrimas nos olhos, mas sentia-se feliz, com toda a sua verdade.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

* Memórias de papel

Entrego-me de braços abertos
E encontro o chão
Eu guardo um diário de recordações
Fotografias amareladas, cartas mal escritas,
Que preguiça!
Não preciso revirar nada
Apenas fechar os olhos
Não preciso revirar nada
Apenas me deitar no chão

Entrego-me de braços abertos
E não te encontro, não
A minha caixa velha, de papelão
Já está cheia!
E não há mais espaço
Na memória, para lembranças
Entradas de cinema, livros,
Filosofias, poemas
Uma pena!
Não preciso revirar
Velharia!
Não preciso lembrar
Não queria!

Apenas fechos os olhos
E lembro, do que não queria
Apenas fechos os olhos
E vejo, o que não devia
Tua barriga deitada sobre a minha
Tuas pernas trançadas
Entre as minhas
Excita-me!
Não queria, não devia

Agora abro a caixa
E jogo tudo sobre o chão
Não há espaço para você
Nas minhas memórias

Nem na minha caixa de papelão

sábado, fevereiro 09, 2008

Top Hits 1968 (english version by Fellipe Caetano)


1968 wasn´t a year like the other in arts.

Not only was politics remarkable in 1968, but the year was revolutionary in arts. Beyond the political activity of the young in several countries; in the United States, the demonstrations used to be mainly against the Vietnan war, in France the target were the transformations in the educational system. But there were also demonstrations for sexual liberation and equality of the genders and races. We hadn´t got into the "hard years" of the military dictatorship here in Brazil yet, this period would only begin on friday 13th, in december of 68, through AI-5, that strengthened the dictatorship. Here, artists and students went out to the streets claiming for democracy and better conditions of teaching. The year was also rich in the fields of arts and popular culture in a general view. At the scenery of international music, the 1968 top hit was Hey Jude, by The Beatles, but they also made other song be all the rage, like Lady Madonna and Revolution. We can also find in the line-up The Doors, Rolling Stones, Temptations, Diana Ross and The Supremes, Dionne Warwick, Marvin Gaye, Bee Gees, Stevi Wonder, Aretha Franklin, and the Brazilian Sérgio Mendes with The look of love and The fool on the hill, that came to be a top hit with Paul McCartney´s voice. Other songs that made success in Brazil were also at the top lists of this very year like Born to be wild, yet sung by the band The Stepennwolf, Hold me tight (it became the soundtrack of a TV ad in the 80´s in Brazil) with Jonny Nash, and Light My fire, with Jose Feliciano. This came to be the greatest song of The Doors.
While The Beatles were singing You say you want a revolution, Jose Feliciano asked to Try to set the night on fire. Actually, it was a revolutionay and inflammatory year, not only in music but also in the streets. Paris knows well.
Surely that in the list of the top 100 there were romantic songs, even because that big thronging mass is known as the peace and love generation. There were also cheerful, dancing and alien, like I say a little prayer, that says "and wondering what dress to wear, now, I say a little prayer for you". While Jerry Butler ask not to give up (Never give you up). The dream can´t finish!
Whoever wants to take a look at he 68 top hits, here you are some links to You Tube. I hope you enjoy yourselves!

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

* Top Hits 1968



1968 não foi um ano qualquer nas artes
Não só a política foi importante em 1968, o ano também foi revolucionário nas artes. Além da movimentação política dos jovens em vários países; nos Estados Unidos, as manifestações foram principalmente contra a guerra no Vietnã; na França o objetivo eram as transformações no sistema educacional. Mas também houve manifestações pela liberação sexual, igualdade dos sexos e racial. No Brasil, ainda não tínhamos entrado nos anos de chumbo da ditadura militar, este período só começaria na sexta-feirta 13, de dezembro de 1968, com o AI 5, que arrochou ainda mais a ditadura. Aqui, os estudantes e artistas saíram às ruas pedindo democracia, e melhorias nas condições de ensino. Ainda no Brasil, o ano foi rico para a cultura popular e para as artes de modo geral.
No cenário da música internacional, o grande sucesso de 1968 foi Hey Jude, dos Beatles, mas eles emplacaram ainda dois outros sucessos na lista dos 100 mais, Lady Madonna e Revolution. Na lista ainda tem, The Dorrs, Rolling Stones, Temptation, Diana Ross and The Supremes, Dionne Warwick, Marvin Gaye, Bee Gees, Stevi Wonder, Aretha Franklin, e o brasileiro Sérgio Mendes com dois sucessos, The Look Of Love, e The Fool On The Hill, que viria ser sucesso dos Beatles, na voz de Paul Mccartney. Outras músicas que vieram a fazer muito sucesso no Brasil também estavam no Top Hits daquele ano, como Born To Be Wild, mas ainda cantada pelo grupo Stepennwolf, Hold Me Tight (que foi até tema de um comercial de televisão nos anos 80 no Brasil) com Johnny Nash, e Light My Fire, com Jose Feliciano, e seria o grande sucesso do grupo The Dorrs.
Enquanto os Beatles cantavam, “Você diz que você quer uma revolução” (You say you want a revolution), Jose Feliciano (depois The Doors) pedia para colocar “fogo na noite” (Try to set the night on fire). Foi realmente um ano incendiário e revolucionário, não só nas músicas, mas também nas ruas, que o diga Paris.
Claro que na lista das 100 mais tocadas tinha músicas românticas, falando de amor; até porque os revolucionários de 68, seriam conhecidos como a geração paz e amor (Woodstock, 1969); também tinha músicas alegres, dançantes e totalmete alienadas, como I Say a Little Prayer, que diz “E enquanto fico pensando em que vestido colocar, Eu faço uma pequena oração para você” (And wondering what dress to wear, now, I say a little prayer for you). Enquanto Jery Butler pedia para “não desistir” (Never Give You Up). O sonho não pode acabar!
Quem quiser dar uma conferida nos sucessos de 1968, vai ai algumas dicas no Youtube. Espero que gostem!




The Doors




The Beatles




Aretha Franklin



quinta-feira, fevereiro 07, 2008

* Os Inconvenientes de Fumar

Não, não vou falar dos malefícios que o cigarro faz para a saúde. O objetivo aqui é falar dos chatos que aparecem quando você acende um cigarro.
O primeiro grupo de chatos é o do fumante sem cigarro, e cara de pau. É só você acender um cigarro e aparecem sei lá, 19 pessoas, de qualquer buraco, te pedindo um cigarro, “por favor”, e ai aquele maço novinho, que você tinha acabado de comprar, acaba em poucos minutos.
O segundo grupo é daqueles chatos, mas não tão inconvenientes, que pedem para acender o cigarro. “Tem fogo?” Se comprou cigarro, compra também um isqueiro.
O terceiro grupo, além de inconveniente é sem noção. Você vai caminhado pela rua, descontraído, fumando o seu cigarro e do nada aparece um doido, maluco, pedinte e fala: “senhor (tio), com todo o respeito, pode me dar (dá) um trago do teu cigarro?” – Ah, com certeza, te dou o cigarro, você traga, depois me devolve, ai ficamos aqui, parados na rua fumando. Não vai querer uma cerveja também, não? E uns pastéis?
O quarto grupo é daqueles que vão para barzinhos enfumaçados, onde até o garçom te serve fumando, senta numa mesa com mais de 50% de fumantes, e fica reclamando da fumaça do cigarro. Ah, porquê não ficou em casa?
O quinto e último grupo é formado pelos conselheiros da saúde. “Cuidado, o cigarro mata!” Ah, se eu não quisesse morrer não tinha nascido! “Cuidado, o cigarro causa não sei quantas doenças”, e o cara ta lá se enchendo de gordura, bebendo todas e fazendo um milhão de coisas piores.
O único jeito é parar de fumar.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

* Ainda é carnaval!



O carnaval acabou, mas a carnavalização da vida, não! Temos o Big Brother, as novelas, a política, e muita sacanagem na televisão. Não que o carnaval seja só a festa da carne, tem muita alegria, e é um grande evento da cultura popular brasileira. Mas festa aqui não falta, alegria também, mesmo no meio de todos os problemas. Em pouco tempo estaremos festejando (isso mesmo!) a páscoa, depois tem dia das mães, Corpus Christi, dia dos pais, 7 de setembro, dia das crianças, 15 de novembro e natal e reveillon, e carnaval. Sem falar das micaretas (odeio), festas juninas, julinas, agostinas e setembrinas; além é claro dos dias dos amigos, das eleições e outros dias que com certeza serão comemorados. Sem contar a sacanagem que vai rolar na política, os escândalos verdadeiros, e os da imprensa marrom. Tem muito samba enredo ainda pra rolar em 2008. Comemoramos os 200 anos da chegada da Corte portuguesa no Brasil, 100 da imigração japonesa, 40 do inesquecível ano que foi 1968. Nossa, pena que não tem Copa do Mundo, PAN no Rio. Mas temos as olimpíadas, na China. Realmente, 2008 vai ter muito carnaval.

E por falar em carnaval, o meu foi muito bom. Passei com ótimos amigos: Karina, menina linda, animada, igual a mim no espírito e empolgação. Tainá, outra menina maravilhosa, e Aline, linda. Nós rimos muito nesse carnaval. Ah, o nosso almoço em Santa Teresa foi ótimo, depois bloco. Fellipe, grande garoto. Também teve Carol Zoga, Guilherme Voluti, Evelyn, Fran, Kim e James, os três últimos gringos ótimos. Carmelitas, Lapa, festinha (carnaval off), Banda de Ipanema, e muitos outros blocos, além de uma rave na praia, com direito a ver o sol nascer no Arpoador, uma pena o sol não ter aparecido.
Ah, mas também teve bicicleta, e alguém comendo chocolate na minha cama. Te adoro!
Claro, carnaval sempre tem inconvenientes. Falo de gente inconveniente, gente chata, gente burra (argh!), sem educação, ordinária, etc... Além de ter o celular furtado no meio do bloco das Carmelitas. Mas é carnaval, e tudo é festa!


segunda-feira, fevereiro 04, 2008

* Quando Ivan aprendeu a nadar

Por um segundo, desses que duram uma eternidade, ele pensou que fosse cair, e ir de encontro com a areia quente da praia. Depois que tudo ficou cinza, fechou os olhos. Suas pernas pararam de sustentar o peso do seu corpo, e era inacreditável como ainda conseguia estar de pé. Aqueles pés que estavam sob tudo, queimavam sobre a areia escaldante da praia de Ipanema. Ele não queria chorar, e seria como deixar o mofo, que estava guardado lá dentro dele, bem escondido, no fundo, aparecer se chorasse de pé. Não foi por estar perdendo os sentidos que se sentou na areia tórrida, foi apenas para que ninguém o visse nublar aquele dia ensolarado com suas lágrimas reprimidas. Quando se jogou no chão, escondeu a cabeça no meio das pernas, entre os joelhos, como se quisesse privar o mundo de um segredo, e deixou que toda aquela raiva, sofrimento e medo viessem à tona, em forma de um jorro copioso, que marejou seus olhos. Chorou! Ele chorou como se fosse uma criança assustada, e a cada soluço, ainda tentava segurar o choro, imaginado que pudesse reprimir aqueles sentimentos que o afligiam. Mas não podia, tinha chegado no ponto final. Tudo nele era insustentável, e não dava mais para viver, como se nada tivesse acontecido, como se fosse ainda a mesma pessoa, como se naqueles meses que tinham antecedido o verão uma tempestade não o tivesse balançado feito amendoeira em ventania, revirado seus galhos, levado suas folhas, derrubado seus frutos. Ora, porque ele continuava a ser tão tolo? O mundo todo estava ali, era só esticar o braço e pegar, mas ele relutava em viver. Não tinha forças para levantar, não tinha forças para nada. E deixou-se ficar sentado, deixando o mundo passar, deixando o mundo existir, enquanto sua pele caia, suas unhas cresciam, seu tesouro era descoberto. Não se permitiu se permitir, nem ficar, nem partir. Levantou a cabeça, por outro longo segundo, e fitou o sol, que o cegou. Quando finalmente voltou a enxergar, percebeu toda a energia do mundo. Percebeu, que para continuar a vida, teria que ser ele mesmo, e só ele poderia ser ele mesmo, e só ele poderia se libertar. Não era permitido ser ordinário e feliz ao mesmo tempo. As vicissitudes da vida devem ser bem vividas. E depois de tanto chorar, levantou-se pro mundo, deu alguns passos, ainda desconcertados, como se fossem os primeiros de sua vida, até chegar na borda do mar. Mergulhou. E foi assim que Ivan aprendeu a nadar.

domingo, fevereiro 03, 2008

* No Espelho


Às vezes me olho no espelho e não me reconheço. Fico procurando aquele garoto de 12 anos que já fui um dia. Quanto medo tinha do mundo, e agora o mundo é meu! Mesmo assim, não me reconheço, porque não tenho nada. Profanei todos os sonhos daquele garoto. E o que eu fiz com o seu corpo? O seu rosto não é mais o mesmo. Quantas marcas de espinhas e cravos, barba, cortes no rosto, marcas de preocupação com a vida, noites mal dormidas, noites muito bem acordadas. Quantas mordidas, muitas, bem levadas! Não sou mais aquele garoto de 12 anos assustado com o mundo. O mundo não me assusta mais. Só me assusto comigo mesmo. Por que não tenho tempo, não tenho limite, não tenho espaço. Agora sou uma pessoa que não serei amanhã. E amanhã não serei esse aqui de hoje. Preocupo-me com aquele menino que fui um dia aos 12 anos, por que no futuro posso ser algo que não quero ser agora. Gosto e desgosto; amo e desamo; sou árido, e faço chover; não costumo deixar passar nada, mas aquela roupa velha pode apodrecer no cesto, que eu nem sinto o cheiro.

O espelho me trai, porque não me mostra. Não mostra minha face má. Ou será que eu não consigo ver a face boa, e penso que o mal que vejo é o bem? Faço confusão com tudo, por que muitas vezes não me reconheço. E acabo agindo por instinto. Sou racional, muito racional. Mas vivo de paixão em paixão. Amo as pessoas que me cercam, meus livros, meus passeios, minha diversão, minha música, o cinema que eu vejo. Mas racionalizo tudo. Mas não uso a razão para nada. Então fico perdido. Tenho medo apenas do julgamento daquele menino de 12 anos que fui um dia. Será que ele vai me culpar por escolhas incertas, será que vai apontar meus erros, sem ver todos os meus acertos? Todas as pessoas maravilhosas que passaram pela minha vida, todas as pessoas que passaram e foram embora. Amei muito e também fui amando, e eu aos 12 anos não esperava que isso fosse acontecer. Amo muito a todo o tempo, e sinto amor de muitas partes. São muitos os que não gostam de mim, e poucos os que fariam algo por mim. Mas esses poucos são um milhão, porque eles são o meu mundo, e quem desgosta acaba não sendo nada, por que o meu mundo é o que eu vivo. E eu não vejo verdade no que eu não vejo.

Espero não ter decepcionado muito meus sonhos de menino de 12 anos. Espero não decepcionar meus sonhos de agora. Espero não me reconhecer no espelho. Mas me reconhecer em mim. Por que a face é apenas uma armadura, uma armadilha. E se você tira essa pele, tem alguém diferente aí embaixo. Embaixo de todos esses níveis deve estar ainda o menino de 12 anos que eu fui um dia. E eu sei que ele tem participação nisso tudo. Eu sei que sempre fizemos escolhas juntos. Mesmo que tenhamos nos distanciado, sempre quis o seu bem e ele sempre sonhou que eu fosse alguém no ano 2000. Então, para eu me tornar alguém tive que matar o menino de 12 anos que fui um dia, o de 13, o de 14, e etc. Seus sonhos, suas vontades. Tive que superar isso tudo. Tive que ser eu mesmo aos 20, 22, 24, 26, e etc. Tenho que ser eu mesmo hoje, tenho que ser eu mesmo sempre. Só não posso decepcionar a mim mesmo hoje. Porque tenho que fazer no meu mundo o que eu quero. Todos os outros são os outros, não são eu mesmo, e mesmo que estejam aqui, sou eu mesmo, não sou nada além de mim. E mesmo que não saiba muito bem, quem sou, o que quero, o que posso. Sei que sou, que quero, que posso. Assim, dia após dias vou me superando, eu mesmo. A única pessoa que posso superar, porque não sou mais ninguém além de mim mesmo. E vou sendo a cada dia mais eu mesmo. E mesmo que não me reconheça um dia no espelho, sei que devo estar em algum lugar aqui. E um dia poderei me reconhecer.