Passa das três horas da manhã, deitado na rede, na sala, tento ludibriar o sono, e terminar a leitura de um livro, faltam apenas 20 páginas, 22, 24... Desconcentro-me. A janela totalmente aberta deixa entrar uma brisa gostosa, o tempo muda, lá fora, o vento faz a árvore vizinha ao prédio balançar. Fico por uns instantes observando nuvens pesadas encobrirem o céu. Meu cigarro queima solitário no cinzeiro. Acendo outro, e ele queima sozinho entre meus dedos, até uma ponta de cinza incandescente cair sobre minha mão, produzindo uma pena queimadura, e me despertar dessa apatia. Sinto como é gostoso estar ali, no adiantar da hora, sozinho. Por alguns segundos me amo. Sinto-me feliz comigo mesmo, e não sinto estar perdendo nada. Apesar de saber que sempre estamos perdendo algo. É tão gostoso estar comigo mesmo, e me sentir bem comigo mesmo. Penso em alguém que me despertou um sentimento muito bom. Penso forte, e sinto como se caísse de um precipício. Vertigem... A rede balança com o meu corpo, sem que eu tenha vontade de me balançar. Sinto calor, e fecho os olhos, mas tua imagem me vem, como se você estivesse ali, de pé me esperando. A tua aparição é tão real, que faço um esforço para levantar, e segurar na tua mão. Mas estou ainda de olhos fechados, e ao colocar o pé no chão caio. Encontro-me com o taco, que nunca esfria, e nunca é quente, e me sinto perto de você. A chuva que começa a cair lá fora atravessa a janela, e invade a sala, molha os meus pés, e mais uma vez desperto. Você não está, nunca esteve, nunca estará. Você nunca estará, nunca esteve, não está. Não consigo mais te ver, tua imagem não se forma quando fecho os olhos. Apaguei você por alguns instantes. Não sinto medo, pois ele é teu. Não sinto nenhum sentimento ruim. Levanto-me para fechar a janela, e deixo-me molhar o rosto com os pingos da chuva. Queria muito poder sair e tomar um banho de chuva... Desço para a rua, estou sem camisa e sinto aos poucos meu corpo se refrescar, não tenho impedimentos, vivo, vivo. Quem está na vida é pra se molhar! Volto pra casa, mais feliz do que antes. Deito-me na rede, ainda molhado, recomeço a ler. O meu relógio parou de contar as horas. Faltam poucas páginas para terminar de ler o livro. Adormeço e acordo com a luz do Sol no meu rosto. Tento me lembrar do que aconteceu, e imagino ter feito coisas que me deixaram feliz, tenho que terminar de ler o livro, tenho que secar o chão da sala, mas deixo-me ficar na rede, vendo o nascer do Sol, e admiro o quanto o mundo pode ser bonito, e quanto à vida pode ser feliz. Tento não ser tão otimista. Hoje já é outro dia!
sábado, janeiro 19, 2008
* Hoje já é outro dia!
É isso ai, por
Jan Träumer (Einmal ist Keinmal - política, literatura, poesia, direitos humanos, reflexões, 1968)
às
1:42 AM
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reflexões
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9 comentários:
Essa repetição verbal quase incessante é intencional?
Se sim, ótimo, porque gerou o efeito ebuliente necessário.
Se não, tudo bem.
Textos que vêm sem muito avisar são arriscados - mas são os melhores. Ainda mais quando envolvem mulheres.
continua assim q vc vai escrever um livro
com um tom de poesia tb
=]
"não sinto medo, pois ele é seu"
ui*
gostei disso, sabe? e gosto das repetições, e gostei desse coiso aqui.
aqui choveu tbem. muito. da minha varanda pude ver os carros parando parando... até se formar uma bonita fila-piscante que se prolongava até a paulista. me lembrei que o melhor companheiro para a chuva é o meu guri, que assim como vc toma banho de chuva e acha graça. acho que estou tão sentimental qto vc.
de qquer modo, gostei desse texto, mais que dos outros. tem a ver um pouco com libertação? com autonomia?
lembrar do outro é uma delicia, mas mais bacana que isso é pensar naquilo que pode ser e ainda não foi. pode ser?
mais bacana que tudo isso é aquilo que pode. e pode, e será.
gostei muito do texto..poético..e envolvente
Olhar-se no espelho, admirar a chuva ou o sol, ler um bom livro madrugada adentro. Ser/estar feliz(e aqui realmente caberia o verbo to be, mas essas idiossincrasias lingüísticas, enfim...) é tão bom, cara.
Faço sempre que posso. =D
Abraços! o/
Moço!
Ame-se SEMPRE e sentirá como é confortante sentir-se bem consigo mesmo em todos os momentos.Tente sim, ser otimista, daí, vc sentirá essa sensação.
É tão bom sentir a liberdade do vento...voar destemidamente pela vida...sem ter medo de nada.
Valorize esse momento que passou de um pouco mais das três horas da manhã, confortando o seu corpo em ótimo abrigo e com essa brisa gostosa que entrou pela janela para realmente firmar a sua idéia de que tem que se viver sem pensar no amanha,viver aqui, hoje, agora, sem ter medo do momento...correr pelo mundo,sem ter medo de se perder,dançar sem ter medo dos movimentos,pular de alegria sem ter medo da tristeza, se descobrir sem ter medo de se desiludir...
amar sem ter medo de sofrer e viver sem ter medo do seu ser.
E vc Jan, você sabe disso...
O medo não é seu.
Adorei isso aqui, legal o texto, acho que todos nós temos e passamos por sentimento parecidos como descreves aqui no texto.
Muito LegaL mesmo, Muito massa.
Amigo, amei teu blog.. bem introspectivo.. Vc só podia ter colocado um nome melhor, ne? Eu nãosei alemão! =P
Bjus!
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