segunda-feira, fevereiro 04, 2008

* Quando Ivan aprendeu a nadar

Por um segundo, desses que duram uma eternidade, ele pensou que fosse cair, e ir de encontro com a areia quente da praia. Depois que tudo ficou cinza, fechou os olhos. Suas pernas pararam de sustentar o peso do seu corpo, e era inacreditável como ainda conseguia estar de pé. Aqueles pés que estavam sob tudo, queimavam sobre a areia escaldante da praia de Ipanema. Ele não queria chorar, e seria como deixar o mofo, que estava guardado lá dentro dele, bem escondido, no fundo, aparecer se chorasse de pé. Não foi por estar perdendo os sentidos que se sentou na areia tórrida, foi apenas para que ninguém o visse nublar aquele dia ensolarado com suas lágrimas reprimidas. Quando se jogou no chão, escondeu a cabeça no meio das pernas, entre os joelhos, como se quisesse privar o mundo de um segredo, e deixou que toda aquela raiva, sofrimento e medo viessem à tona, em forma de um jorro copioso, que marejou seus olhos. Chorou! Ele chorou como se fosse uma criança assustada, e a cada soluço, ainda tentava segurar o choro, imaginado que pudesse reprimir aqueles sentimentos que o afligiam. Mas não podia, tinha chegado no ponto final. Tudo nele era insustentável, e não dava mais para viver, como se nada tivesse acontecido, como se fosse ainda a mesma pessoa, como se naqueles meses que tinham antecedido o verão uma tempestade não o tivesse balançado feito amendoeira em ventania, revirado seus galhos, levado suas folhas, derrubado seus frutos. Ora, porque ele continuava a ser tão tolo? O mundo todo estava ali, era só esticar o braço e pegar, mas ele relutava em viver. Não tinha forças para levantar, não tinha forças para nada. E deixou-se ficar sentado, deixando o mundo passar, deixando o mundo existir, enquanto sua pele caia, suas unhas cresciam, seu tesouro era descoberto. Não se permitiu se permitir, nem ficar, nem partir. Levantou a cabeça, por outro longo segundo, e fitou o sol, que o cegou. Quando finalmente voltou a enxergar, percebeu toda a energia do mundo. Percebeu, que para continuar a vida, teria que ser ele mesmo, e só ele poderia ser ele mesmo, e só ele poderia se libertar. Não era permitido ser ordinário e feliz ao mesmo tempo. As vicissitudes da vida devem ser bem vividas. E depois de tanto chorar, levantou-se pro mundo, deu alguns passos, ainda desconcertados, como se fossem os primeiros de sua vida, até chegar na borda do mar. Mergulhou. E foi assim que Ivan aprendeu a nadar.

13 comentários:

Anônimo disse...

Olá...
Ivan aprendeu a nadar em um mar de lágrimas...
Reaprendeu andar em linhas de poesia...
Belo & denso - essa prosa poética toda...
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/

Anônimo disse...

Nossa, que lindo!!! Belo texto...lindas palavras. Parabéns!!! Beijos.

Marco Alcantara disse...

Estou aqui oh só. rs

Mas comentando o texto...uma das coisas boas da vida é aprender a nadar parece que a gente é livre parece que a gente voa.

Mandou bem cara.

Abraço!

Anônimo disse...

Muito bacana

Legal a mensagem

outra coisa..o link do seu perfil no orkut ta errado
hehehe

abraço



http://redacaoesporte.blogspot.com/

Laurah disse...

mto bom o texto!!!


Parabéns pelas suas palavras, por saber usá-las corretamente e com tda essa beleza!!


bjoos

Deivid F. disse...

perfect...

um texto que me dispertouuu a vontade de voltar mas vezes !!

(*voltarei + vezes)

PARABÉNS !!

Unknown disse...

visão, enxergar, coisas anuviadas,
inércia, pontos de inflexão..
vc sempre volta a esses temas
gostei

Anônimo disse...

Posso dizer, sem sobra de dúvidas, que Ivan sou eu.
Nossa, vim correndo ler o texto.
Literalmente idêntico ao que passei e estou passando.
A foto é linda. Demonstra liberdade, novas oportunidades, não só novas, como oportunidades que são e devem ser aproveitadas.
Adorei!
Adorei o texto e adorei tudo.
Lembra que te falei ' Jan esse ano vou me permitir'.
E, ta no seu texto isso.
Quero me permitir, e já virei o ano me permitindo.
Lindo texto, me identifiquei demais.
Os passos desconcertados, como se fosse um beBê aprendendo a andar, louco pra caminhar direto e explorar novos horizontes.
A vida tem que ser vivida, fato.
To feliz porque me permiti desde início de janeiro.
To feliz porque to leve, to tranquila, to como deveria estar, como uma menina de 21 anos, aproveitando os amigos, conhecendo pessoas, lugares, novas situações e aprendendo a me adaptar e curtir tudo que aparece.
Te adoro MUITO pilha duracell hahaha
bjan e ateh

blog do pedro disse...

Maravilhoso o texto! É denso, mas sem ser cansativo...Gostei!!!

Nana Lopes - @Nanamada disse...

Lindo!!

Anônimo disse...

Post legal
poetico
ahUAH

Ai vc comento no meu blog
da historia do arrastao e tls
c vc quizer tem mais acabei de postar
a continuaçao dela c vc se interesar
da uma lida lá .

Yeah Baby disse...

Nossa que lindo isso, parabens.
Voce escreve muito bem, vou voltar sempre aqui.
beiijos

Anônimo disse...

Olá, gosto de literatura então fucei até achar um post de conto ou algo do tipo rsrs... o blog no geral é muito legal, mas como disse acima textos de caráter literário são a minha praia e com seu conto não foi diferente, achei super leve e pessoal... No sentido de falar individualmente de alguma forma com quem lê.


Grande Beijo, preciso melhorar minha escrita, estou mt longe de escrever com tanta facilidade assim

;D