segunda-feira, março 31, 2008

Vietnã 1968, David versus Golias

Durante grande parte de sua história o Vietnã lutou contra a opressão de potências estrangeiras. Ainda no século IX os vietnamitas venceram as forças da dinastia chinesa Han, e colocaram fim à quase mil anos de vassalagem. Depois ainda lutaram contra outras dinastias chinesas, e contra os mongóis. Mais de seiscentos anos depois, já na era moderna lutaram novamente contra os chineses, das dinastias Ming e Ching e na aurora da era contemporânea lutaram contra os khmeres. Porém, em 1860 o Vietnã passou a enfrentar uma potência distante. Naquele ano, os franceses iniciaram a conquista colonial da Indochina, e em quatro décadas consolidaram a dominação da península. Essa dominação só foi quebrada em 1940, quando a colônia francesa foi invadida e dominada pelo Japão. Ao final da Segunda Guerra Mundial, quando os franceses tentaram retomar o controle, o movimento de independência, liderado pela Frente de Libertação Nacional, fundada em 1941 por Ho Chi Minh, já tinha declarado a independência do norte do país. O sul, controlado pela França, foi declarado país independente em 1946. Foi assim que as potências imperialistas levaram o Vietnã a uma guerra de 30 anos de duração, pela sua libertação e unificação.
O novo país de orientação socialista não se rendeu à opressão francesa, e lutou bravamente durante nove anos, derrotando em 1954 os franceses em Dien Bien Phu, e obrigando estes a firmar o acordo de Genebra no mesmo ano. Assim, os franceses e os Norte Vietnamitas acertaram retirar suas tropas do Vietnã do Sul, até as eleições marcadas para 1956. Quando o futuro do país seria decidido nas urnas. Mas os Estados Unidos invadiram o Vietnã do Sul e instalaram um governo títere sob o comando de Ngo Dihn Diem. Em 1968 as tropas estadunidenses no Vietnã do Sul ultrapassavam meio milhão de homens. Mas a grande potência capitalista estava longe de obter uma vitória. Grande parte da sua população não queria guerra. Desde 1965, quando o jornalista Morley Safer gravou uma reportagem no vilarejo de Cam Né, e mostrou aos estadunidenses seus soldados expulsarem os moradores, camponeses, de suas choupanas e com seus isqueiros Zippo atearam fogo nelas, grande parte da opinião pública ficou contra a guerra, além disso, outro grande motivo, talvez até o principal, para rejeição ao conflito, foi o alto número de soldados mortos. E mesmo com uma superioridade bélica avassaladora, os estadunidenses cada vez se atolavam mais no Vietnã, e no final de 1967 a constatação geral era de que não estavam perdendo, mas também não estavam ganhando, ou melhor, aquela guerra nunca seria ganha. Cada vez mais, governo após governo, a questão para eles deixou de ser; “como ganhar a guerra?”, para; “como sair sem sofrer uma grande humilhação?” Algo semelhante ao Iraque de hoje.

A situação se tornou pior para os estadunidenses em janeiro de 1968, quando os Vietcongs iniciaram a ofensiva Tet e chegaram às portas da embaixada dos Estados Unidos em Saigon, capital do Vietnã do Sul, pegando-os de surpresa. A opinião pública estadunidenses ficou cada vez mais contra a guerra, e os estudantes foram para as ruas protestar, principalmente depois do dia 16 de março daquele ano, quando soldados ensandecidos colocaram fogo numa aldeia chamada My Lai, matando crianças, mulheres e idosos. Dessa vez as cenas do holocausto vietnamita não foram filmadas e exibidas no mundo todo, mas a notícia se espalhou. Em 1968, os Estados Unidos foram sacudidos por protestos estudantis. Eles reivindicavam o fim da guerra, melhores condições e menos autoritarismo nas universidades, direitos civis, fim do racismo legal, igualdade para as mulheres e o fim da discriminação aos homossexuais. A guerra terminou em 1975, quando a grande potência imperialista foi humilhada por um país pequeno, atrasado e agrário. Em 1976, o país foi reunificado. Durante mais de 15 anos de guerra os Estados Unidos despejaram no Vietnã mais bombas, em toneladas, do que em toda a Segunda Guerra Mundial, além de terem feito testes com armas químicas e bacteriológicas, destruíram 70% de todos os povoados do norte. Mesmo assim, naquele ano de 1968 o pequeno David começo a derrotar o grande Golias.

domingo, março 16, 2008

TODOS OS PERSONAGENS DO MUNDO




Quando me dei conta de minha existência, eu era apenas um JOVEM TÖRLESS. Ainda havia muitas indecisões. Eu era ainda muito ambíguo. Até podia exercer o mal, pensando estar fazendo o bem. Tinha uma visão maniqueísta do mundo, e isso não me agradava. Então me tornei um pouco REITING, praticante de todos os tipos de vilanias existentes. Mas como não sabia ser apenas algoz, fui aos poucos me tornando BASINI. O que me transformou de certa forma em vítima. E como não aceito nem ser vítima de mim mesmo, esse personagem não me cabia, nenhum desses personagens me cabia! Quando eu fui todos eles, ainda era muito JOVEM.


Com o passar dos anos fui aos poucos me tornando um pouco WERTHER. SOLIDÃO e SOFRIMENTO eram tão importantes como paixão platônica. Vivia da tempestade ao ímpeto! Mas o crescimento passa por descobertas, multidão, e paixões correspondidas. E eu ainda era JOVEM.








Descobri um dia que eu podia ser TOMAS. Como é bom poder mudar de personagem! Foi quando me invadiu uma INSUSTENTÁVEL LEVEZA DOS SER. O sexo se tornou não apenas prazer, mas também liberdade. A liberdade significou viver. Esse me pareceu ser o melhor personagem. Sem culpa, sem paixão, sem medo, sem remorso. Apenas livre e convicto. Somente encantado em viver a vida, sem estar apegado a ela. Eu apenas vivia!








E no meio das dores do prazer de viver, a vida me transformou em DORIAN GRAY. O que me causou certo problema em ter que esconder o seu (meu) RETRATO. Sempre muito trabalhoso. Muito mais trabalhoso do que exercer algum lado negro ou praticar qualquer tipo de vilania. Melhor era viver na superfície, num mundo raso e apenas de aparência. Hedonismo, por favor, hedonismo! Personagem esse um pouco velhaco, apesar de aparecia muito jovem. Nada disso me cabia. Eu não caibo em nada disso.


Preferi, então, ser apenas eu, mais um JOÃO, e nascer eu mesmo, personagem diferente a cada dia. Como se um resto de poeira cósmica não pudesse ser o que quiser.

sábado, março 08, 2008






Na Semana Internacional da Mulher, mais precisamente no dia 8 de março, consagrado como dia Internacional da Mulher, haverá uma blogagem coletiva para marcar a luta das mulheres contra o preconceito, em favor da igualdade. A escolha desse dia, como uma data de luta, se deu em 1910, no Congresso Internacional das Mulheres Socialistas, em homenagem às 129 operárias mortas queimadas pela força policial numa fábrica têxtil, em Nova Iorque, no dia 08 de março de 1857, durante uma paralisação que reivindicava a redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas diárias, e o direito a licença maternidade.
Os três textos a seguir são a minha pequena contribuição, com o objetivo de levantar a discussão sobre os direitos das mulheres e sua (nossa) luta, pela concretização desses direitos.


ALGUNS ASPECTOS DA CONDIÇÃO FEMININA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO NO INÍCIO DO SÉCULO XX

No início da década de 1910 um fato noticiado por vários jornais na cidade do Rio de Janeiro serve, de modo geral, de ilustração da vida das mulheres na cidade. Uma mulher jovem, cerca de 20 anos, não identificada, ao circular na Avenida Central (depois de 1912, Rio Branco), acompanhada de outra mulher, foi abordada por um grupo de homens que apuparam-na, gritaram palavras obscenas, puxaram sua roupa. Agredida, com medo da reação da turba, para não ter a roupa rasgada, ela foi obrigada a se abrigar numa loja, pois ainda corria o risco de sofrer outros tipos de violência. A justificativa para o assédio e a violência mais uma vez, como sempre o costume, foi culpar a vítima por vestir uma saia (que como todas as outras não mostrava nada), última moda em Paris, nunca vista antes no Rio de Janeiro, que não tinha aquele número excessivo de anáguas que serviam para deformar e esconder o corpo das mulheres. A saia não era colada ao corpo, mas dava certa forma ao mesmo, e viria a ser usada em pouco tempo por todas as mulheres no Rio de Janeiro.
Esse fato ilustra como eram tratadas as mulheres no Rio de Janeiro naquela época, apenas como objetos para os homens. Dessa forma, havia uma grande delimitação entre os espaço das ditas “mulheres honestas” e as “não honestas”, ou seja, as meretrizes. As primeiras estavam excluídas do espaço urbano, e quando saiam às ruas eram sempre vigiadas por um homem, ou até mesmo por outra mulher. A rua era um espaço masculino, e não poucos casos de estupros eram “desculpados”, pois a culpa era da vítima que se encontrava sozinha em uma rua não apropriada, ou num horário não apropriado, ou havia se “oferecido”. Muitos homens, ao cometer algum abuso contra uma mulher, desculpavam-se ao afirmar que tinham agido de tal modo, por pensarem que a vítima fosse uma meretriz. Não era costume mulher andar sozinha pelas ruas. Uma mulher caminhando desacompanhada causava suspeita, e poderia ser tratada de forma grosseira, ou até sofrer abusos.
Foi inicialmente a necessidade de trabalho que lançou mulheres pobres nas ruas da cidade, na segunda metade do século XIX. Mesmo assim, a rua continuou um espaço masculino. Somente nas primeiras décadas do século XX é que as mulheres começaram a conquistar a ‘liberdade’ de saírem sozinhas às ruas. Mas não foi apenas a necessidade do trabalho que levou às mulheres às ruas, novos costumes, como os passeios de carro, para as elites, e a ia às compras, moda imitada logo pelas mulheres das classes medianas, levaram às das classes mais elevadas a saírem sozinhas às ruas já na década de 1910.
Mesmo assim, apesar de certa liberdade nos espaços públicos, esperava-se que as mulheres se portassem de modo socialmente desejável. Ao se criar o estereótipo da ‘mulher pública’, em antagonismo ao da ‘mulher honesta’, e criar fronteiras simbólicas, interditando espaços públicos e privados às meretrizes e às mulheres não meretrizes em geral, podiam ser mais bem controladas no espaço urbano. Desse modo, ao estigmatizar prostitutas e não prostitutas criava-se um espaço de controle de ambas, onde o cumprimento das regras era vigiado não só pelos homens, mas também pelas mulheres. Aos poucos as mulheres foram se libertando dessas amarras, põem ainda ficaram resquícios do preconceito. Muita luta ainda vai ser necessária para que as mulheres não sejam estigmatizadas por assumirem determinado comportamento, não sejam culpadas mesmo quando são vítimas (muitas mulheres vítimas de estupro são consideradas “culpadas” por usarem roupas sensuais, ou algo parecido), não sofram preconceito apenas por serem mulheres.




MULHERES DE 1968

No dia 07 de setembro de 1968 foi realizado num hotel em Nova Iorque o concurso Miss América. Esse dia, nos Estados Unidos é muitas vezes dado como a data em que o feminismo moderno foi lançado. Mas o que teria em comum um concurso de Miss, evento conservador, onde apenas a beleza e os “bons modos” das candidatas são levados em consideração, com o movimento feminista? Nesse caso, tudo!
As Mulheres Radicais de Nova Iorque naquele ano de 1968, dedicado aos direitos civis, não podiam deixa passar um evento tão triste, sem nenhuma manifestação. Um grupo de mulheres se postou em frente ao hotel com uma grande lata de lixo chamada de “lata de lixo da liberdade”. Dentro da lata de lixo, elas despejaram várias coisas como sutiãs, produtos de beleza, entre outros. Além de pendurar cartazes, e para o evento por vinte minutos repetindo a frase “Liberdade para as mulheres!”. O grupo corou uma ovelha como Missa América 1968. O evento chamou atenção da mídia, colocada no hotel para cobrir a eleição da Miss América, e foi importantíssimo para e luta por igualdade.
A geração de 68 fez a revolução sexual, derrubou estereótipos, colocou as mulheres na frente dos homens. O Miss América 1968 foi um marco, pois a partir daquele momento as mulheres não queria ser vistas apenas como objeto sexual dos homens, ou como uma Miss, “boa na sala e na cama”. As mulheres podiam e podem ser muito mais. Realmente, a exploração, como objeto sexual das mulheres, continua até hoje, mas elas avançaram muito no sentido da igualdade com os homens. Nós (homens) ficamos para trás na revolução sexual, não conseguimos acompanhar as mulheres, somos muito mais lentos com as mudanças. Mesmo assim, com as mulheres fazendo o que apenas os homens podiam fazer, os homens passaram a fazer o que somente mulheres faziam. E hoje homens são tratados apenas como objeto sexual também. No mundo de hoje, torna-se objeto apenas quem quer ser trado como objeto.
As mulheres de 68 revolucionaram o mundo, depois da década de 1960 o mundo não foi mais o mesmo. O amor livre, as famílias modernas, e tantas outras coisas não existiriam não fossem essas mulheres, que não só nos Estados Unidos, mas em grande parte do mundo, não aceitaram a dominação, protestaram, mudaram suas próprias posturas, e mudaram o mundo. Hoje as mulheres podem tudo, e estão cada vez mais próximas do poder. O mundo é das mulheres!




MULHERES QUE NÃO FOGEM À LUTA


Em 1893 a Nova Zelândia foi o primeiro país a conceder o direito de voto às mulheres. Hoje em alguns países as mulheres ainda têm um papel secundário, não só na política. Mas nesses 115 anos muitos avanços ocorrem no campo dos direitos da mulher. É claro que muita luta foi necessária para se obter qualquer direito, e muita luta ainda será necessária para acabar de vez com o preconceito, o machismo, a exploração da mulher e todo tipo de violência que muitas mulheres sofrem no seu dia-a-dia, além da manutenção dos direitos adquiridos ao longo dos anos.
Ainda hoje mulheres são assinadas por seus maridos em diversos países onde às mulheres têm os seus direitos reconhecidos, e esses homens nos tribunais apinhados de homens são muitas vezes julgados de forma branda. Como muitas mulheres no passado que não fugiram à luta pelos seus direitos, ainda hoje é necessário que os movimentos de defesa dos direitos das mulheres estejam ativos. Estamos no século XXI e a igualdade entre os sexos ainda é um mito. As mulheres hoje lutam, principalmente, por afirmação profissional, social e política. Muitas ainda ganham salários em torno de 50% menores do que dos homens, sofrem violência sexual e outros tipos de violência, são tratadas pela mídia como objetos sexuais e há preconceito na política e em outros campos da sociedade.
Não haverá uma sociedade verdadeiramente democrática se as mulheres não estiverem realmente em igualdade com os homens. Nesse sentido, uma revolução democrática ainda será necessária para acabar com as sociedades machista. As mulheres no início do século XX, tanto na Europa como nos Estados Unidos não podiam imaginar que grandes avanços ocorreriam na transformação de suas reivindicações me direitos. Hoje, existe uma diferença muito grande entre países onde as mulheres têm os seus direitos reconhecidos e onde isso ainda não aconteceu. E mesmo nos países onde há o reconhecimento dos direitos das mulheres, a participação delas de forma igualitária na sociedade ainda está para acontecer. Muitas mulheres e homens não devem fugir a essa luta pelos direitos das mulheres. Só assim poderemos num futuro viver num mundo melhor. Sem machismo, sem racismo e qualquer outro tipo de opressão.

sábado, março 01, 2008

* E agora Fidel?

Depois de 49 anos à frente do governo cubano, doente, e de forma melancólica, Fidel Castro deixa o poder. Para muitos já vai tarde! Em 1959, quando a Revolução Cubana derrubou o ditador Fulgencio Batista, a acabou com a dominação americana na ilha, que já durava mais de 60 anos, Fidel era considerado um libertador, não só para os cubanos, mas para o mundo todo. Ele era o homem contra a tirania, hoje ele é a tirania. O barbudo tinha o seu charme, e fascinava não só as esquerdas. Corajoso, inteligente, viril (Fidel nunca foi de uma mulher só!), desde cedo se tornou um mito. A história empurrou e Fidel se deixou empurrar para uma das mais longas ditaduras do século XX, adentrando o XXI. Hoje, quase meio século depois Fidel é visto por muitos como um opressor, um ditador.

A recusa dos EUA em aceitar a liberdade da ilha, levou Fidel a se aproximar cada vez mais da URSS, estávamos na Guerra Fria. O fim do bloco soviético, associado ao bloqueio vergonhoso dos Estados Unidos à Cuba tornou a vida na ilha de Fidel quase insuportável. Mesmo assim, Cuba conseguiu dar a volta por cima e nos últimos anos tem sido um dos países que mais crescem no continente americano.

Fidel, depois de conquistado o poder, não chegou a abandonar o sonho da revolução mundial, mas quis consolidá-la primeiro em Cuba. Já Che Guevara, tinha como objetivo estendê-la para o mundo. Além disso, Cuba era pequena demais para os dois grandes homens. Talvez se Che não tivesse morrido, tão novo, teria contribuído para que Cuba tivesse outro caminho, mais democrático. Talvez o poder não tivesse ficado concentrado nas mãos de Fidel. Talvez! Como a história é sempre o que ela foi, e não o que deveria ter sido, a história julgará Fidel, e é esse o julgamento que ele aguarda. A sua saída da chefia de Cuba pode trazer muitas mudanças para a ilha, e espero que sejam todas elas no sentido de uma democratização com a manutenção de certo socialismo. Que os cubanos não percam os benefícios em saúde e educação que dão a ilha um Índice de Desenvolvimento Humano muito mais alto do que o brasileiro. Que a vontade do povo cubano seja feita, e que o povo realmente se liberte e não precise mais perguntar, “E agora Fidel?”